Hz - Melancolica (2022)

Neste tempo de de pandemia e isolamento social, Hernandez com o projeto Hz, lança o seu primeiro album de originais, “Melancólica”, convida-nos a uma viagem, não só pelas suas mundividências, mas mais que tudo, as nossas, as de cada um.
O convite que vos faço, é que se ouça o álbum como se lê um livro. Porque “Melancólica” é muito mais que um conjunto de músicas.
“Melancólica ”, o álbum, é, para além da música em si, um convite que nos é endossado para uma viagem, não só pelos espaços físicos a que as sonoridades nos levam, mas também para a nossa memória colectiva, histórica, social, política. Aliás, sobre este último ponto, a data de lançamento do álbum, 25 de Abril, não só é só uma afirmação por parte do autor, mas também o reendosso de revisitarmos a nossa memória enquanto povo. E um povo não terá existência sem a sua história.
A mixagem das sonoridades de Hernandez, transportando-nos de uma distante Goa, passando por África, até uma Lisboa capital de um império físico que já não existe, é em si mesma, a mixagem que nós, enquanto povo, fomos fazendo ao longo dos últimos séculos desde que partimos à conquista de Tanger e Ceuta.
O discurso de António de Oliveira Salazar em pano de fundo de “Minucioso” é só por si um achado e a prova de que a música de Hernandez, está muito para além das sonoridades com que nos agracia. É, a afirmação, de que a cada instante devemos revisitar a nossa história, para entendermos o como e porquê de estarmos aqui. Não confundir com saudosismo de outros tempos, bem pelo contrário. O revisitar da história é hoje fundamental, para prevenirmos os erros do passado, que ressurgem em força na Europa e no mundo.
A música, é também, para além da beleza da melodia , um legado de quem as cria.
No álbum “Melancólica” Hernandez, dá-nos a conhecer a sua mundividência. Os locais que visitou e em que viveu, os cheiros dos bazares e dos mercados, a polifonia dos dialectos. Os encontros e desencontros. Os amores e desamores.
Aceitemos o convite de Hernandez, e deixemo-nos levar “por mares nunca dantes navegados”, numa viagem, para além do nosso tempo com as sonoridades que ele criou. E saibamos, cada um de nós, descobrir o porto final dessa viagem, que não será nem mais nem menos, do que nós próprios. É aí, que a música de Hernandez, nos levará, “assim nós tenhamos engenho e arte”.