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Os Quais - Geral (2019) [Hi-Res]

Os Quais - Geral (2019) [Hi-Res]

BAND/ARTIST: Os Quais

  • Title: Geral
  • Year Of Release: 2019
  • Label: Self Published
  • Genre: Electronic; Brazilian Music
  • Quality: MP3 320 kbps; 16-bit/44.1kHz FLAC; 24-bit/44.1 kHz FLAC
  • Total Time: 31:04
  • Total Size: 87; 160; 314 MB
  • WebSite:
Não sabia muito por onde começar a escrever sobre um disco que tanto diz respeito à música brasileira sendo ele registado em solo português. Recorri a dois interlocutores, incontornáveis, que entenderiam o que estou a dizer e mesmo entenderiam ainda mais o disco em questão. São eles Caetano Veloso – cuja leitura de suas resenhas sobre discos dos seus parceiros (que por sua vez são também parceiros do disco que estamos a falar) acendeu o lume para que este texto fosse me soprado aos ouvidos, naturalmente, como qualquer boa brisa tropical – e Eduardo Lourenço – que, como quase nenhum português, percebe claramente o que de fato ainda conecta o Brasil ao Portugal. Os Quais e seu disco Geral, entendem e são falantes nativos da língua destes dois portos imensos da cultura lusófona. Não somente deles dois, claro. Porém não vejo melhor companhia para iniciarmos esta travessia.

Outro dia, na cidade do Porto, um senhor português bastante sábio – inclusive responsável pela tradução do Tao te king em Portugal, me disse após o concerto que dei: “Durante muito tempo quis viver no Brasil. Fui lá, durante a ditadura e vivi. Percebi então que nunca quis viver no Brasil, mas sim, viver eternamente na música brasileira”.

A história desse senhor é um sintoma do efeito da miragem Brasil há tempos já diagnosticado por Eduardo Lourenço, que não só entendeu este falso Brazilian dream mas também a falsa contrapartida vinda do outro lado do oceano: “se o Brasil é sonho para portugueses ou os portugueses se entretêm a sonhá-lo, Portugal nem é o sonho do Brasil nem os brasileiros perdem tempo em nos sonhar”.

De modo geral, se estamos falando estritamente da troca cultural entre os dois países, esta é uma frustrante verdade. Há, porém, alguns brasileiros que sonham e até vivenciam este Portugal, o autor deste texto, exemplo. Creio que por conta disso Tomás e Jacinto me convidaram para escrevê-lo.

Alguns anos atrás, estava eu de boleia noturna pelas ruas invernais e vazias de Lisboa no carro da poeta Matilde Campilho. Pusemos no CD player o Pop é o contrário de pop. Ao fim da primeira faixa ela disse-me: “Isto aqui tem frescor brasileiro tão bom de se ouvir, não é?” Sim. A partir dali, reescutando o Pop em outros momentos da vida, percebi que Os Quais possuem, dentro da música lusófona na qual transitamos, uma balança muito rara: a meditação necessária para compor uma canção e a alegria justa para cantá-la. Qualidade que sempre esperei, durante muito tempo em vão, em artistas portugueses ou brasileiros (que a priori entendem o respectivo outro lado, mas não chegam as vias de fato).

Porque velejadores, como disse, Tomás e Jacinto nunca se entretiveram a sonhar com o Brasil, nem se aterrorizavam pela saudade descolorida portuguesa: Eles se entretêm a de fato viver o Brasil que tanto conhecem e amam como amam, de um jeito naturalmente diverso e igualmente genuíno, Portugal.

A primeira vez que escutei o Geral foi durante um outono lisboeta que se recusava a ser outono, permaneceu durante muito tempo a gostar de ser um verão estendido. Como os verões cariocas, que naturalmente duram 10 meses. Penso que as canções do Geral são justamente este chamamento de verão em pleno outono que deveria ser quase inverno. (É provável que as canções estivessem atuando sobre o clima, a impedir o calor de esfriar, desafiando as quatro estações, como qualquer boa canção brasileira é capaz). Geral portanto é inesperado, poderoso e bom, mesmo para os portugueses que aguardam ansiosamente o frio para poderem reclamar da vida mais desbragadamente.

Em Geral há só um outro instrumentista português a figurar na ficha técnica, além da dupla: o baterista Fred Ferreira em “Outra deixa”. De resto são todos brasileiros: Pedro Sá, Domenico Lancelotti, Gabriel Mayall, Laura Lavieri, Lucas Vasconcellos, Gustavo Benjão, Marcelo Callado e Joana Queiroz. O disco foi produzido e majoritariamente gravado no Brasil pelo também velejador destes dois portos atlânticos, Ricardo Dias Gomes, cuja trajetória musical – seja em carreira solo, seja parte de bandas como Do Amor ou Zumbi do Mato, seja como companheiro de uma década de Caetano Veloso, enquanto integrante da Banda Cê – mereceria um texto em separado.

“Aquela”, e sua evocada “tarde de verão”, “Amanhã etc.”, equiparando Guarujá e Santo Antão, “Lisboa boa” a pedir do ouvinte português um “simples sorriso” e, mais literalmente, já quase ao final, a deliciosa “Marcha do Bicentenário” a contar-nos que

“há duzentos anos chegou o rei ao Brasil
para que hoje nossos enganos se fizessem em beijos mil
boca a boca mesma língua,
corpo a corpo outro sotaque
contra a dor e a triste sina
vem jogar sempre ao ataque”

todas as canções de Jacinto e Tomás fazem de Geral este desvio quente, um desvio que gostávamos todos que se transformasse em norma e que nos dá uma saudade – desta vez colorida – quando acaba, tal como as boas revoluções ou as festas da nossa infância. A sorte é que podemos apertar o play novamente, sempre que for necessário.

Mariano Marovatto

Tracklist:
01. Os Quais - Lisboa Boa (4:09)
02. Os Quais - Lampedusa (6:27)
03. Os Quais - Anticonstitucionalissimamente (1:32)
04. Os Quais - Aquela (2:14)
05. Os Quais - Defeitos Perfeitos (2:37)
06. Os Quais - Relâmpago (3:30)
07. Os Quais - Just Say Não (2:12)
08. Os Quais - Outra Deixa (2:39)
09. Os Quais - Marcha do Bicentenário da Chegada da Família Real ao Brasil (3:08)
10. Os Quais - Amanhã Etc. (2:37)

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